sábado, 5 de novembro de 2011

A distração é uma traição

 Hoje acordei com uma insistente duvida que não para de me perturbar. Olhei em meu relógio, observei o movimento na rua, cheirei meu cachorro; para averiguar se eu havia banhado o mesmo no dia passado. Nada do que fiz cessou minha duvida. Poucos sabem como levar uma duvida a cabo, e menos ainda são os que conseguem de fato exterminar uma duvida.
  
   É interessante como uma duvida é tão audaciosa, e em dado momento tão honesta. Não somos capazes de suprimi-la facilmente. Quando uma duvida se instala em nossa mente, ficamos meio que perdidos, sem direção certa, a correr de um lado a outro, com um incomodozinho que só tende a aumentar.
  
   Mas que raio de duvida vem a ser essa? Alguns prontamente perguntarão; aos que respondo: por quais diabos devo distrair-me? Qual motivo malicioso que leva um homem a distração? Quais momentos nos incomodam a ponto de afastar-nos de nós mesmos? Boa pergunta! Grita o filosofo petulante.
  
   Em verdade, aproveito a deixa para ensinar três perguntas que realmente fazem sentido em nossas parcas vidas. Dessas três perguntas, duas já tomamos conhecimento através de nossa histórica, porém necessária filosofia. Mas sou rabugento, e como todos os que são, não me conformo com perguntas vazias. Só mesmo começando pela minha pergunta as outras terão o necessário sentido. E essa pergunta, tão insolente, criminosa, sussurrante; da qual poucos se atrevem a tomar partido. O que realmente devo fazer? Faz-se a pergunta, e por infortúnio nos deparamos com um emaranhado de respostas; aonde umas anulam as outras. Vou tentar responder.
  
   Quando surge a “O que realmente devo fazer?”, o desespero surge na sequencia. Observo todos os dias as pessoas, tomando as atitudes corretas. Ninguém comete erros, todos estão no momento da vitória, todos já fizeram as grandes escolhas; inevitável tragédia! Ao iniciar a grandiosa terceira questão enfrentamos uma infinidade de outras questões. Por qual motivo devo fazer essa pergunta se já faço algo, se esse algo já foi determinado, se não é necessário ir contra a sociedade, contra os pais, contra deus. A tragédia que hoje anuncio faz parte de nossa pequenina história de alguns milênios. Ao perguntar “o que realmente devo fazer?” todos se agacham, uma bomba está prestes a explodir. Uma pergunta como essa jamais deve ser feita, pois ao guerrearmos contra nós mesmos, admitimos que perdemos todas as outras guerras; mas eis a beleza. A guerra só faz sentido se for travada contra causas vitoriosas. Não se pode voltar atrás, é preciso fazer a pergunta. É nesse momento que a distração soa suja, como todo o resto do senso comum. É nesse momento que devemos nos preocupar com nós mesmos, e alcançar o inicio de tudo; esse inicio se encontra dentro de nós. Para o inicio não existe espelhos, exceto em nossas mentes. Devemos aproveita-las.
  
   Essa pergunta tão simples, que já nasce clássica, vem carregando outras duas, as quais, outrora, foram pronunciadas por um certo Sr. Nietzsche em um de seus escritos, tais são: “o que estamos fazendo?” e “Por que estamos fazendo?”. Essas duas fedem, já se encontram mumificadas, amaldiçoadas. Todos nos jogam contra elas, e, por serem odiadas, as afastam. É tempo de mudar essa triste realidade. É tempo de fazer as duas perguntas antigas, para que logo em seguida sejam substituídas pela minha pergunta: a terceira. Façam essas perguntas todos os dias; pela manha, pela tarde, pela noite, no banho, no trabalho e em qualquer outro lugar. Não apenas sussurrem como as crianças, ou como os idosos, mas gritem bem alto, o mais possível, com toda a energia da juventude; com toda a energia da experiência, que há muito foi suprimida. A alma do homem que se dispor a indagar desta maneira a si mesmo, se inflará de orgulho, e verá a luz do dia novamente. As trevas incessantes logo se afastarão para cederem lugar ao mais magnifico conhecimento, e um dos poucos que podemos valorizar. Esqueçam a inútil distração, a distração proporcionada pela TV, a distração dada de graça pela vida alheia; a distração não passa de uma enganação de outrem, que logo se torna uma traição, de nós para conosco.  Nós somos importantes, ponto e basta. É tempo de nos valorizarmos.  



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